quinta-feira, 1 de junho de 2006

* A RECENTE DESCOBERTA DE CICLONES SUBMARINOS NA COSTA NORDESTE DO BRASIL

Por Elísio Gomes Filho

Cientistas alemães descobriram o que se pode identificar de poderosos redemoinhos submarinos em frente da costa do estado de Recife, os quais vem fornecer informações sobre o clima global, uma vez que alterações no sistema das correntes marítimas podem esfriar o clima da Europa.

Os oceanólogos partiam do princípio de que nas grandes profundidades do Oceano Atlântico os rios de águas marinhas corriam tranqüila e continuamente. Ora, nada poderia estar mais longe da realidade, já que, a dois mil metros de profundidade, redemoinhos com 300 quilômetros de diâmetro varrem o Atlântico a uma velocidade de cerca de 150 m/h. A descoberta, realizada na costa brasileira, partiu de cientistas do Leibniz Institute of Marine Sciences at Kiel University (http://www.ifm-geomar.de) – ou seja, o Instituto Leibniz de Oceanologia (IFM-Geomar), sediado na Universidade de Kiel.

Eles haviam instalado no fundo do mar, ao sul da costa pernambucana, aparelhos para medição de correntes. Uma vez por ano, os aceanólogos alemães retiravam os referidos equipamentos para ler e conferir os resultados, voltando a depositá-los no mesmo local. Assim os pesquisadores do Instituto Leibniz, os quais de início ficaram surpresos pela forte flutuação das correntes, mas com a ajuda de modelos de simulação puderam identificá-la como sendo poderosos redemoinhos.

Mas não constituem perigo para os seres humanos ou para a navegação 

Esses lentos ciclones submarinos são chamados “eddies”, no jargão dos oceanólogos. Eles se formam a cada 60 dias, quando a Corrente Atlântica se dispersa, ao alcançar a costa brasileira, na área dos estados do Nordeste, absorvendo as águas profundas. Em seguida, os redemoinhos movimentam-se em direção ao sul, ao longo das paredes continentais, numa área em que a profundidade do fundo do mar cai de 100 e 200 metros para 3500 metros de profundidade abruptamente.

Ao contrário dos ciclones que se formam na atmosfera, os ciclones submarinos não constituem perigo para os seres humanos ou para a navegação, porque ocorrem, muito abaixo da superfície do mar, informação assegurada pelos cientistas. Por outro lado, podem ser um importante indicador de alterações no sistema de correntes atlânticas. Estes transportam água aquecida para o norte, nas camadas superiores do mar, e água fria para o sul, nas profundidades, e exercem importante influência sobre o clima da Terra.

Uma interrupção dessa corrente causaria uma forte alteração do clima 

Os modelos desenvolvidos pelos pesquisadores de Kiel demonstram que os “eddies” só se formam se o afluxo de águas profundas do Atlântico Norte for suficientemente forte. Assim, a alteração ou o desaparecimento dos redemoinhos pode ser uma importante indicação de mudanças em toda a Corrente Atlântica e, portanto, também na Corrente do Golfo, o fluxo de águas mornas entre a América e a Europa.

Diga-se de passagem, que graças à Corrente do Golfo do México, grande parte, do oeste e norte europeus, possui um clima mais ameno do que seria de esperar, dada a latitude geográfica em que se situam. E uma interrupção dessa corrente causaria uma forte alteração do clima na Europa. 

Elísio Gomes Filho é mergulhador, escritor e historiador, sendo autor de livros sobre tragédias marítimas e foi fundador do Museu Histórico Marítimo do Cabo Frio (1987) e do Museu Histórico Marítimo de Armação dos Búzios (2001), cujo acervo foi doado ao Museu Oceanográfico de Arraial do Cabo. 

Entre suas pesquisas, encontra-se aquela que veio elucidar o caso do desaparecimento do barco-de-pesca “Changri-lá”, sobre o qual descobriu que a pequena embarcação brasileira foi atacada pelo U-199 em julho de 1943. Hoje, os nomes dos dez pescadores do “Changri-lá” encontram-se, imortalizados, no Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial no Aterro do Flamengo. 

O especialista em histórias do mar, é responsável pelo site: www.nomar.com.br

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