terça-feira, 26 de abril de 2011

* PERDER UM TRIPULANTE NO MAR DEVE SER A SITUAÇÃO MAIS AFLITIVA PARA QUALQUER COMANDANTE

MARINHEIRO CESAR - MESTRE AMADOR - IATE CLUBE DE FLORIANÓPOLIS -SC 

Todos nós navegadores, já deixamos cair na água uma toalha, copo, ou qualquer objeto e percebemos a dificuldade que é tentar recuperá-los. Saber o que fazer nestes momentos é o primeiro passo para aumentarmos as chances de uma operação de salvamento perfeita.

Meu nome é César Possenti -Tenho 60 e poucos anos (risos), sou Mestre Amador e navego como Marinheiro Particular há mais 40 anos.

Sou casado e tenho dois filhos.

Moro no bairro do Estreito em Florianópolis - Santa Catarina e trabalho no Iate Clube de Santa Catarina – Veleiros da Ilha. 

Bom, para vocês amantes da navegação e leitores do blog do Ney Broker; Vou contar uma história que aconteceu comigo em uma época que não se ouvia falar em Gps.

Por isso, quero destacar desde o começo dessa materia, que os GPS possuem ferramentas de grande utilidade e que muitos navegadores tem a bordo e não dão valor. Utilidade e teclas tao importante que se na época tivéssemos a bordo,  meus amigos não passariam tanto sufoco para me achar... 

Final de Março de 1982; recebi um convite de meus amigos Horacio Carabelli e Cláudio Contento para levar um veleiro para a Argentina. Aceitei e embarquei em Florianópolis SC. O veleiro modelo MAIN 34’ de nome “Manustoor” ia com destino ao Iate Clube de San Ezidro em Buenos Aires na Argentina, só que com escala em Buceu no Uruguai, para equiparmos o barco com instrumentos e acessórios, pois o barco era “zero” e na época no Brasil era muito caro e difícil o acesso a esses acessórios e equipamentos de navegação. 

Partimos de Florianópolis SC com o Veleiro praticamente vazio...Sem equipamentos, sem motorização e com muitas coisas a serem feitas.

Nos primeiros 06 dias e 06 noites navegamos até a barra do Rio Grande com ventos de Nordeste/Leste Fraco a Moderado.

Tudo ia muito bem até o través da barra do Chui. Já estava escurecendo, navegávamos de vento em popa com o Spiniker (balão) e a vela grande em cima, com velocidade de 12 a 14 nós e ondas com direção ao Sul de 1,5 metros de altura. Cláudio Contento estava dentro do barco dormindo e eu escorado ao quarda-mancebo de boreste conversando com meu amigo Horacio Carabelli que estava no timão...Derrepente!!! (PHUST)...Arrebentou o quarda-mancebo e eu que estava sem o cinto de segurança caí na água gelada dos mares do sul, mais ou menos com 10 graus de temperatura. 

O Horacio quando percebeu que eu cai no mar, tentou tirar a bóia circular o mais rapido possível, mas estava muito  presa as ferragens, então ele a arrancou com força e arrebentou os cabos em volta da bóia lançando-a na água pra mim... porem o barco estava com as velas e o Balão em cima, se distanciando muito rapido... e cada vez mais longe... o Horacio largou a bóia, porem mais ou menos uns 100 metros de onde eu tinha caído. Então comecei a nadar em direção a bóia que parecia que eu nunca ia alcançar... Já estava quase desistindo , pois eu estava com muito frio e sem forças, mas continuei a nadar e felizmente consegui alcançar a bóia. 

Agarrado a bóia circular e para meu desespero, a bóia que foi arrancada a força do barco pelo horacio, estourou os cabos que estavam presos a ela e por esses buracos estava entrando muita água e eu comecei a afundar com ela... a noite começou a cair e meus amigos demoravam a retornar...Pois segundo o Horacio, ele foi chamar o Cláudio que estava dormindo para poder fazer a mudança das velas do barco...e com isso o barco se distanciou muito, desde a hora que cai na agua. 

Quando eu ja estava pensando no pior, vi no horizonte o veleiro retornando ..porem notei que o barco fazia muitos zig zag, ou seja eles não estavam me avistado...

Que loucura, eu vendo eles e eles não me vendo... Eu  estava com os olhos fixados ao barco...quando vi alguém estava subido no mastro, nossa! era o Cláudio que com sua experiência e seus olhos de bom navegador, conseguiu me avistar.

Ai veio à parte mais difícil... Eu estava cansado, com frio e tentando não afundar com a bóia, pois já estava há quase uma hora dentro daquela água gelada... o veleiro navegando ja no escuro em contra-vento... passou um palmo de mim, mais ou menos a uns 12 nós. 


Então o Claudio me viu e fez sinal para o horacio retornar... eles retornaram em minha direção com vento de popa o Horacio no Timão e o Cláudio cuidando das velas e com um cabo na mão para me jogar...

Quando me viu novamente ele lançou o cabo, e  meu desespero era tanto que peguei no cabo do jeito que veio e queria subir a bordo de qualquer jeito, porem de frente não dava...Tomei muita água salgada até perceber que tinha que virar de costas e esperar ser puxado.

O Cláudio me segurou do jeito que dava e me puxou pelo short ... apertando as minhas bo...(voce sabe o que) ai que dor...e conseguiu me colocar para bordo novamente.

Galera, quando me vi em cima do convés notei que renasci...troquei de roupa e tomei uma bebida quente para me aquecer.

Passado o susto, seguimos nosso destino revesando o comando do barco, mas sempre em cima do convés e...

De manhã cedo, fomos surpreendidos por um navio de passageiros que passou pelo nosso lado a uns 100 metros..imagina os turistas vendo aquele barquinho pequenino ali cercado de águas por todos os lados..eles não perderam tempo e com suas maquinas fotográficas bateram muitas fotos. Mal sabiam o que tinha acontecido comigo na noite anterior.

Seguindo viagem, chegamos em Buceu no Uruguai onde ficamos 24 horas “re-carregando as energias” e fazendo a manutenção no barco...no dia seguinte, levantamos as velas e navegamos com rumo a Argentina.

Chegamos ao Iate clube de San Ezidro (nosso destino final), só que para nosso azar, assim que atracamos no pier....começou a Guerra das Malvinas. Isso mesmo no dia 2 de abril de 1982, quando a Argentina ocupou militarmente as ilhas Malvinas.

Foram 26 dias desde que saímos de Florianópolis até a liberação pelo exercito Argentino para retornarmos ao Brasil (por terra). Uma aventura!!!

Conclusão final

" Se na época tivéssemos a bordo um equipamento de navegação tipo o GPS ...EQUIPAMENTO que quase todos os barcos possuem e muitos comandantes não usam, não teríamos passado por tanto sufoco. E o mais importante dele, é a tecla “Mob” que alem de salvar vidas, também serve para marcar uma posição de emergencia, ou que deixamos cair no mar, tipo motor de popa, ancora, relógio, etc"..

Amigos, não sou muito bom no português , mas espero que tenham gostado e curtido essa minha experiência, que pelo blog do Ney pude compartilhar com voces. Não tenho e-mail , orkut e internet , mas quem quiser tirar alguma duvida, me procure no Veleiros da Ilha em Florianopolis (48-32257799). Atualmente trabalho em uma Schaefer Yachts de 50 pés.

um abraço, boas navegações e parabéns Ney pelo seu excelente trabalho.

Cesar Possenti
ah! visite o site  www.neybroker.com.br 


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3 comentários:

Celso Ogro Redes disse...

Ney e Cesar, muito obrigado por compartilhar esta experiência e nos ensinar como estar preparados para esta difícil situação.

Atenciosamente

Celso Redes

Celso Ogro Redes disse...

Ney e Cesar, peço autorização para postar este post no meu Blog, claro, com o devido crédito.

Ney 7 disse...

Ok! Celso... fique a vontade amigo... um abraço