terça-feira, 4 de maio de 2010

* BARCOS A DERIVA

Afetados pela crise econômica, os americanos abandonam suas embarcações em águas públicas e nas marinas como se fossem entulhos

FONTE: NATÁLIA LEÃO - ISTO É DINHEIRO

DESCASO: marina na Flórida lotada de barcos apreendidos

A praxe no mundo náutico diz que, em situações de emergência, o último tripulante a abandonar a embarcação deve ser o comandante, mas, em época de recessão mundial, os americanos estão mudando essa regra. Eles estão, literalmente, abandonando seus barcos em marinas, em lagos e no mar - próximos da costa litorânea. Motivo: eles já não conseguem sustentar seus brinquedinhos que consomem pequenas fortunas. À deriva como se fossem lixos, as embarcações tornaram-se um problema e tanto para as autoridades. "Antes da crise, cerca de dez barcos eram abandonados anualmente nas marinas no sul da Califórnia", disse à DINHEIRO Kevin Ketchum, gerente de seis marinas no Estado da Califórnia. "Agora são mais de 40 barcos abandonados ao ano." No Estado da Flórida, foram encontrados 118 barcos abandonados nesse último verão - 110 a mais do que no ano passado. Na Carolina do Sul, detetives portuários identificaram cerca de 150 prováveis barcos abandonados desde janeiro. O problema tornou-se tão crescente que já é estudada a criação de leis para conter o avanço do abandono de barcos.

FISCALIZAÇÃO: oficial da Guarda Costeira avalia embarcação abandonada. O problema é tão grande que o governo estuda a criação de novas leis 

O Estado da Califórnia, por exemplo, tenta aprovar uma lei que permita aos donos de barcos, que não têm mais condições de mantê-los, fazer uma doação legal ao governo. Assim, o Estado cuidaria dos custos de despejo da embarcação. "As pessoas abandonam seus barcos porque, além de ser muito caro mantê-los, é muito caro despejá-los devidamente", afirma Ketchum. Para se livrar de um barco, é necessário pagar de US$ 1 mil a US$ 10 mil em taxas para o governo, além de US$ 100 a US$ 150 por "pé" da embarcação, para remover, transportar e destruir o barco. Ou seja, para abrir mão de uma lancha de 70 pés (23 metros de comprimento), custa cerca de US$ 17 mil, valor que parece assustar os proprietários. O abandono das embarcações acontece, entretanto, porque o valor de sua manutenção é alto. "Custa cerca de 10% do valor total do barco ao ano", diz Mario Sérgio Sergenti, gerente comercial da Yacht Brasil, uma das maiores empresas de venda de barcos.

Na ponta do lápis, um barco de 70 pés que tenha custado cerca de US$ 2 milhões gera anualmente gastos de cerca de US$ 200 mil - valor que pode variar dependendo do tamanho da embarcação e da marina em questão. Outro fator que está contribuindo para o abandono de barcos é a desvalorização dos modelos usados. Pudera: com a crise financeira, há muita oferta e pouca demanda. "Eles não têm valor nenhum em épocas como essa de queda da economia", diz Ketchum. "No Brasil, se um barco for deixado na marina por mais de dois anos ou se o proprietário ficar o mesmo período sem pagar as taxas ao governo, o registro é cassado e o dono perde os direitos sobre ele", afirma o comandante Fontelle, assessor da DPC, Diretoria de Portos e Costas do Brasil.

Nos Estados Unidos é diferente, não existe um período determinado para o barco ser considerado abandonado. Frequentemente, a marina e a Guarda Costeira notam embarcações que foram despidas de todos os itens de valor, que não estão em dia com as taxas e que aparentam descuido. Nesse caso, é feita uma avaliação para encontrar os proprietários, mas, na maioria das vezes, os números de registro são raspados para que o dono não seja encontrado. Isso acontece porque o caso de abandono em águas públicas é considerado crime. Na ausência do dono, o barco é adesivado com notificações e, após 45 dias, é apreendido. Se antes os proprietários ostentavam suas lanchas com orgulho, agora eles se escondem. Navegar? A tormenta financeira não deixa mais.

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